Algo Horrível e Estranho.

    Aproveito que hoje não tive aula para escrever um pouco aqui. Na verdade eu deveria estar estudando outras coisas: o texto para um seminário em dezembro, a matéria de Semântica e Pragmática; Reler o livro "O Retorno" para a próxima avaliação, também no início de dezembro... Faço Letras numa universidade federal ... Confesso que não estou muito impolgado com o curso... Na verdade, há um tempo atrás, entre os anos de 2018, 2020, passei por uma fase muito ruim. Estava completamente desmotivado. Trabalhava até as 17:00, chegava em casa e já não tinha ânimo para fazer mais nada. Ficava deitado de 17:50 até 21:00 ou 22:00, só levantando para dormir. Também fui acometido por pensamentos sombrios e muita desesperança... na verdade, ainda as tenho e estou certo de que jamais será diferente. Sim, jamais...
    Bom, as coisas começaram de fato por volta de 2012, quando passava por períodos de muito medo. Frequentava a igreja na época e um dos meus maiores medos era o de blasfemar contra o Espírito Santo, que segundo a Bíblia é o único pecado que não tem perdão. (acho que em Mateus tem essa passagem. Bom, eu estava passando por uma semana muito difícil em relação a isso. Tinha pensamentos horríveis contra o Espírito Santo (ainda os tenho, infelizmente). Eu ficava com uma espécie de pensamento (acho que intrusivo como dizem) de que se eu praticasse uma determinada ação, estaria blasfemando contra Ele; inclusive vi esse fenômeno abordado de forma bem humorada no Tik Tok, onde alguém fala coisas do tipo "se eu não chegar naquele poste antes do carro passar por mim, vai me acontecer algo muito ruim", ou  "se eu jogar esse lápis no pote vou ficar rico (isso é meio positivo". Isso é o que me acontecia. Bom... como ficava indo muito de minha cidade para a capital onde vivia numa república, as vezes me vinha o pensamento "se eu viajar hoje, estarei amaldiçoando o Espírito Santo". Me lembro de que numa dessas ocasiões, também nessas semana, fui a igreja e o pregador falou num determinado momento de que era para ter cuidado com essa blasfemia... Na hora, tomei aquilo como um sinal, mas acabei viajando assim mesmo.
    Pouco tempo depois desconfiava que minha mãe me daria um notebook. Me lembro que numa quarta-feira estava tentando ligar para ela e ela não atendia... na hora esses pensamentos também ficavam vindo. Bom, no sábado (acho que 11 de agosto se não me engano) haveria uma reunião lá na república onde morava, mas como estava pretendendo ir à casa de minha mãe, avisei que não poderia ir. Parece que isso gerou alguma alteração na reunião que passou para o dia 18. Não me lembro se minha mãe chegou a comentar algo sobre o computador, mas sei que eu precisava ir para casa no dia 11. No sábado de manhã, trabalhei e resolvi viajar depois do almoço. Os pensamentos voltaram a me atormentar indicando que se eu viajasse estaria blasfemando contra o Espírito Santo. Bom, isso me deixou tão agoniado que comecei a cogitar não ir mais. Em conversa com um amigo, que morava lá e hoje mora comigo, relatei (sem dizer o motivo, é claro) que estava com ideia de permanecer na capital aquele fim de semana. Ele me disse. "se eu fosse você, iria, por que a reunião foi remarcada por sua causa". Bom, não me restou outra alternativa. Me lembro que no metrô, os pensamentos apurrinhavam e a frase "não terá perdão vinha em cinza na minha cabeça" também vinha "se você for para sua casa, toda a sua família sofre as consequências" Nisso, parei em frente à escadaria que sobe para a plataforma e esses pensamentos se transformaram em sensações fortes. Ao chegar na rodoviária havia acabado de sair um ônibus e o próximo seria meia hora depois. Fiquei pensando "que bom, talvez não seja para eu ir mesmo". Naquela agonia de ir e não, cheguei a cogitar a ideia de ir para a casa de uma tia, numa cidade perto da minha, mas que também tinha acesso através da capital. Mas vinha um pensamento que me deixava um pouco com pena da minha mãe, no qual ela me esperava e ficaria chateada se eu não fosse. Também fiquei ansioso pelo notebook. 
    Fui pegar um ônibus no primeiro ponto depois de sua partida da rodoviária e fiquei pedindo a Deus um sinal se fosse para mim não ir. Pouco tempo antes de o ônibus chegar, um amigo, meu conterrâneo e colega de escola na adolescência apareceu e me cumprimentou (interpretei isso como sinal) me encontrou no ponto e íamos viajar juntos. Os pensamentos continuavam atormentando. Quando o veículo chegou estive, se me lembro, quase desistindo de entrar nele, mas entrei. Assim que subi os degraus, senti que era um caminho sem volta... A última tentativa de não viajar apareceu quando a cobradora veio cobrar e não tinha troco para mim (acho que estava com uns R$ 50,00). Na hora disse a ela que não tinha problemas que eu desceria do ônibus, mas ela afirmou que não teria problema e sugeriu que eu pagasse a do meu colega (ou foi ele quem sugeriu, não lembro bem), e desceríamos juntos em algum lugar para ele trocar o dinheiro... Aceitei. E nesse momento, pareço ter aceitado também o fato de ter blasfemado contra o Espírito Santo. Aceitei o fato de que havia condenado a minha família. Acho que a partir daquele momento nunca mais fui o mesmo... acredito que minha alma morreu.
    Ao chegarmos na nossa cidade, passei com meu amigo num supermercado para ele trocar o dinheiro e me repassar a passagem. Acho que insisti que não precisava e ele não gostou muito. Na hora de nos despedirmos ele me deu um abraço forte (julguei ser de despedida, de lamentação pelo que acabei de fazer). Quando estava passando de ônibus, a caminho do bairro de minha mãe, passei pela região da igreja e ficava pensando as coisas ruins, proferindo por pensamentos as maldições contra o Espírito Santo... via na mente algo muito escuro na igreja, como um buraco, um vazio...
    Cheguei em casa e lá estava o notbook embrulhado para presente (num papel azul se não me engano) e com um bilhete carinhoso da minha mãe. Bom... no meio daquela mesma noite, acordei com um pensamento, uma certeza horrível e pesada de que minha família estava condenada ao inferno por minha causa... No outro dia, me levantei mais cedo que de costume e até minha mãe estranhou. Meu coração já estava tomado pelo pecado... Não sei se no rádio ou na missa da igreja perto da casa dela, estava tocando um trecho de uma canção que falava de servir a Deus, ser enchido por Ele, algo assim... bom, me lembro que minha mãe disse que gostaria de ser como a letra da música ... Me lembro que na minha cabeça e coração eu disse "nunca será". Voltei naquela mesma tarde para a capital com o notbook e uma parte morta minha. Durante aqueles dias fiquei deitado, querendo chorar, querendo e talvez não, me arrepender pelo que havia feito a minha mãe. Bom, fiquei pensando que alguma coisa aconteceu, pois de fato não consigo mais sentir... vem na minha cabeça a sensação de que minha mãe também blasfemou contra o Espírito Santo só pelo fato de ter me dado o notebook... pois se não fosse, talvez não teria ido lá. Um dia, ela me disse que tinha sonhado que estava na casa de uma amiga nossa em comum da igreja que eu frequentava, também moradora aqui da capital e a polícia chegou dizendo que precisava levá-las, não me lembro se para alguma execução, e mesmo tendo implorado, eles diziam que sentiam mais era preciso... me parece que foi antes desse fatídico dia 11 de agosto. Na mesma época essa amiga nossa mudou e a amizade praticamente acabou...
    Para terminar por hoje, depois disso, alguns meses, um homem no metrô, com um sorriso muito branco e bonito começou a conversar com migo falando coisas que não entendia das quais me lembro de dois fragmentos "nunca imaginei que..." "algumas coisas, Deus já mostrou, outras, Ele vai mostrar". Acho que nessa última, havia um pouco de seriedade, talvez repreensão em sua voz. Depois não vi mais ele. Julguei que era um anjo de Deus. Não sei se tem a ver, mas uma manhã estava deitado em casa, acho que pensando na minha mãe, quando uma voz falou ao meu coração "ela não encontrará perdão". Bastou isso para eu já não ter mais esperanças... Tem outras pequenas coisas para contar, mas acho que não são relevantes.
    Sabe, o pior de tudo isso é que eu nunca mais disse a minha mãe que eu a amo... Isso seria mentira. Um filho não condenaria a mãe ao inferno... No início de tudo me lembrava de uma parte no Livro de Provérbios que diz algo sobre tomar cuidado com os que estão próximos, pois eles confiam na gente... Isso me incomodou um pouco. As vezes gostaria que soubesse, mas depois penso "para quê, para arruinar a vida dela?" As vezes fico pensando traí minha própria mãe e essa imagem de filho bonzinho vai cair por terra no dia do Juízo Final.

Comentários